O que é Bipolaridade?
Transtorno Afetivo Bipolar, Bipolaridade ou Transtorno Maníaco-Depressivo (como era chamada antigamente) é uma doença mental caracterizada por oscilações de humor frequentes, entre mania (comportamentos ansiosos) e depressão. As alterações são percebidas nos comportamentos, pensamentos, fisiologia e interação social. Existem dois tipos de Bipolaridade, Tipo 1 e 2, sendo o primeiro mais grave.
O que é Mania?
Mania é um estado emocional no qual o indivíduo possui grande ansiedade, descontrole emocional, impulsividade e prejuízo no julgamento. É comum pensamento muito acelerado, inconsequência, falta de julgamento de risco, pensamentos de grandeza, heroísmo e compulsividade. Além disso, quando no estágio maníaco, o indivíduo apresenta impulso para compras, sexo, comida, exercícios físicos e comportamentos perigosos para si e para outros, como direção perigosa ou esportes de risco.
Não obstante, o Bipolar em estágio maníaco apresenta autoestima exacerbada, perda de sono e não necessidade de descanso, fala acelerada, fuga de ideias, perda de foco e concentração, envolvimento em situações de risco ou potencialmente mortais, mas sem noção do perigo.
A preocupação principal com o estágio maníaco é que não há julgamento de valor ou consequências, podendo o paciente, muitas vezes, se botar em risco de morte, ter perdas na vida financeira, gastando dinheiro que não tem, vida sexual, se relacionando sexualmente constantemente sem segurança e com desconhecidos de forma nada criteriosa, se alimentando demais, dormindo pouco e correndo risco.
Além disso, é preocupante o estágio maníaco quando o paciente possui ideação suicida, já que, como está impulsivo, não tem medo de nada e pode cometer um ato impensado.
O diagnóstico pode ser difícil porque nem sempre os sintomas são claros, misturando Depressão e Mania de forma cíclica. Desta forma o diagnóstico final pode demorar vários anos.
O risco de suicídio durante os episódios mistos, os quais oscilam entre Mania e Depressão, é consideravelmente alto.
O que é Hipomania?
A Hipomania é caracterizada por um episódio maníaco com duração de 4 dias ou mais, apresentando comportamento significativamente diferente do rotineiro, contudo não apresenta sintomas depressivos contundentes. A Hipomania pode ser entendida como uma Mania controlável, por ser mais branda.
Neste episódio hipomaníaco, o humor fica elevado, agitado, diminui-se a necessidade de dormir e o indivíduo fica constantemente procurando o que fazer. Algumas pessoas apresentarão comportamentos não tão inadequados, utilizando esse “excesso de energia” para criatividade e produção, outros entretanto, apresentarão desajustamento social, falta de concentração e agressividade. Outro comportamento comum é a volatilidade de interesses, a pessoa fica obcecada por um determinado assunto, como a música, compra todos os instrumentos musicais, mas nunca pratica, seguindo rapidamente para outro interesse que também não manterá.
O que é Mania Psicótica?
A Mania psicótica é a forma mais agressiva e contundente de Mania, caracterizada por sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, muitas vezes semelhantes, e difíceis de diagnosticar, à esquizofrenia. O indivíduo pode ter delírios de grandeza, como se considerar uma divindade, que é procurado pela polícia internacional, ou que todo mundo quer transar com ele/ela. Também podem ser apresentados comportamentos agressivos como gritar e violência física, o humor fica ainda mais instável e pode cometer atitudes incoerentes.
O que é Depressão?
Depressão é um Transtorno de Humor caracterizado por diversos prejuízos em vários âmbitos de vida do indivíduo. A Depressão prejudica o fisiológico, a cognição, apreensão de conhecimentos, percepção corporal e psicológica, julgamento, autoestima e funcionalidade social.
Quando o paciente se encontra em Depressão evita o convívio social, apresenta pensamentos de insegurança, desesperança, desespero e desamparo, descontrole emocional e ideação suicida.
A Depressão Maior pode ocorrer de forma episódica, ou seja, um período isolado da vida na qual, por um trauma, perda, morte, situações marcantes em geral, se inicia uma depressão que se mantêm até o tratamento ser iniciado. Outra forma que a Depressão se apresenta é a forma recorrente, ou seja, episódios sequenciais da doença, com períodos não-longos entre os episódios.
Dados Estatísticos da Bipolaridade
A Bipolaridade costuma se manifestar até a 3ª década de vida, mas pode ser desencadeada em qualquer momento de vida. Tem prevalência de 4% da população mundial. Dividida em três tipos, a Bipolaridade de tipo 1 possui a mesma predominância dentre homens e mulheres. A Bipolaridade Tipo 2 possui maior prevalência em mulheres.
Causas e Fatores de Risco
O Transtorno Bipolar é a doença mental com o maior fator hereditário de todas, ou seja, uma pessoa com pai e mãe com diagnóstico de bipolaridade tem cerca de 85% a 90% de chance de apresentar traços da doença. Contudo, Bipolaridade é um transtorno de causas mistas, portanto, fatores sociais e familiares podem influenciar, como:
- Privação afetiva na infância
- Abuso sexual
- Violência física e psicológica
- Bullying
- Hiperatividade
- Morte, luto e traumas
Tipos
Transtorno Bipolar Tipo I
Bipolaridade Tipo 1 possui prevalência de 1% da população mundial, sendo caracterizado como o tipo mais raro de bipolaridade. Diagnosticado pela presença de ao menos um episódio maníaco completo, sendo capaz de comprometer a funcionalidade do indivíduo, atrapalhando sua capacidade de julgamento, trabalhar, socializar e controle emocional, muitas vezes, mas não obrigatoriamente, associado com episódios depressivos.
Para um diagnóstico de Bipolaridade Tipo 1 não é necessário uma complementariedade entre a Mania e a Depressão, basta um episódio maníaco no decorrer da vida.
A Bipolaridade Tipo 1 é considerada a mais grave porque é comum pacientes em estágio maníaco, cerca de 60%, apresentarem sintomas psicóticos, como alucinações e delírios, necessitando, portanto, de internação ou medicação imediata.
Como o principal sintoma do tipo 1 é a forte presença de Mania, o indivíduo apresentará:
- Humor Eufórico (excessivamente animado, eufórico, expansivo, prepotente, audacioso, egocêntrico)
- Autoestima inflada ou sensação de grandiosidade
- Prejuízo no Sono (dorme pouco, não sente necessidade de descansar)
- Impulsivo (não mede consequências, age sem pensar, toma decisões de última hora, faz tatuagens, pratica sexo perigoso, faz uso de drogas)
- Pensamento e Fala (acelerados, desconexão entre pensamentos e fala exagerada, grandiosa e sem sentido)
- Distratividade
- Excessiva atividade (procura muitas coisas para fazer ao mesmo tempo mas dificilmente segue com todas)
Estágio Misto
Em algumas casos de Bipolaridade tipo 1 é comum a apresentação de um estágio misto, no qual se observa o contraste simultâneo entre a Mania e Hipomania associados à pelo menos três sintomas da Depressão. A prévia de um estágio misto é a aparência de a pessoa está melhorando. Ela já não apresenta muitos sintomas maníacos ou depressivos. Repentinamente, tem uma piora no quadro e é nesse momento que devemos estar com ainda mais atenção, porque o risco de suicídio no estágio misto é muito mais alto que nos outros estágios.
Transtorno Bipolar Tipo II
Possui prevalência média de 5% da população mundial. Diferente da Bipolaridade Tipo 1, a Tipo 2 não apresenta alucinações ou delírios e, dificilmente, apresentará mania. Não obstante, é caracterizada por múltiplos episódios depressivos não tão graves quanto aos apresentados no Tipo 1 acompanhados de Hipomania. Estes episódios depressivos costumam ter curta duração e rápida resolução, muitas vezes, inclusive, sem o uso de medicações.
Em alguns casos, contudo, é possível que haja resistência do paciente a medicação.
Qual a diferença?
Considerando que o Transtorno Bipolar, seja tipo 1 ou 2, é baseado em sintomas de Mania e Hipomania associados à Depressão e avaliando também se houve melhora em algum momento, é comum afirmarmos que a Bipolaridade de Tipo 1 é mais perigosa e danosa do que o Tipo 2. Dizemos isso porque os contundentes sintomas costumam prejudicar a funcionalidade do indivíduo, como trabalho ou família, e até colocar sua vida e de outros em risco, comportamentos esses mais comuns no Tipo 1.
Portanto é improvável que um Bipolar tipo 1 não seja internado ou hospitalizado em algum momento de sua vida devido à tentativa de suicídio, uso de drogas, overdose, infecções sexualmente transmissíveis, acidentes e outros.
Isso levanta outra questão, que é o fato do Bipolar tipo 2 muitas vezes passar despercebido, não recebendo devida atenção familiar, já que as alterações de humor não são tão indeléveis.
Como lidar com alguém com Bipolaridade?
É importante que toda a família apoie e seja presente na vida da pessoa, não apenas nos momento de mania e hipomania, quando costuma ter comportamentos mais perigosos, mas também nos momentos depressivos e melancólicos. O bipolar não pode ficar sem supervisão, deve ter um acompanhante terapêutica, seja um psicólogo ou psiquiatra, isso é imprescindível.
O bipolar não é culpado pelo seu comportamento, ele/ela não é uma pessoa que age com más intenções, portanto não é aceitável culpabilização da pessoa ou da família. O que deve ser feito é procurar um profissional para tratamento adequado.
É comum também que o bipolar tenha dificuldade de manter relacionamentos devido à volatilidade de comportamentos e emoções. Nestes casos a terapia de casal pode auxiliar, contudo, como se trata de um transtorno de humor, primariamente é muito mais indicada a terapia individual associada a medicação.
Diagnóstico
A Bipolaridade pode ter um diagnóstico difícil porque pode ser confundida com Depressão Maior. Portanto, é importante sempre investigar se há sintomas de Mania e Hipomania, porque são importantes para o diagnóstico diferencial. O profissional de saúde deve investigar comportamentos maníacos, como gastos exorbitantes, atividade sexual inconsequente, uso de drogas, alucinações e delírios.
Além disso, os pacientes com bipolaridade podem apresentar Transtornos de Ansiedade, como ataques de pânico, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), fobia social, TAG (transtorno de ansiedade generalizada) ou Transtornos Esquizofrênicos.
Não obstante, é necessário um exame de sangue e/ou urina para avaliar uso de substâncias, lícitas e ilícitas, e afecções como Hipertireoidismo. É importante que o paciente seja questionado claramente sobre ideação e tentativas suicidas.
Tratamento
Medicações
Os tratamentos mais indicados para Transtorno Bipolar são alianças entre os Psicofármacos (medicações) e Psicoterapia. Dentre as medicações estão:
• Estabilizadores de Humor (lítio e anticonvulsivantes)
• Antipsicóticos
Em alguns casos, essas medicações podem ser utilizadas em separado, contudo é comum utilização conjunta. Indica-se não utilizar qualquer substância estimulante, lícita ou ilícita, inclusive o álcool, por aumentarem a impulsividade.
A medicação deve ser utilizada conforme indicação médica, imprescindivelmente. A indicação mais comum é que o uso seja diário, um ou dois comprimidos espaçados com quantidade de horas, mas deve-se sempre seguir a posologia indicada.
A principal dificuldade farmacológica do Transtorno Bipolar é que a medicação e dosagens são difíceis de acertar, além das interações medicamentosas, colaterais e adaptabilidade do paciente. O diagnóstico correto se faz importantíssimo porque o bipolar que utiliza medicações incorretas, como as antidepressivas, pode ter piora no quadro bipolar, com agravamento dos comportamentos e pensamentos.
Terapia Cognitivo-Comportamental
O atendimento psicológico é muito importante e apenas a medicação não se mostra suficiente para um tratamento adequado. Desta forma, o mais indicado é que o paciente seja atendido semanalmente, por meio de qualquer teoria psicológica, contudo a que mostra mais evidências de sucesso no tratamento é a Terapia Cognitivo-Comportamental.
As oscilações de humor são constantes, portanto demandam um processo terapêutico baseado na confiança e abertura para contato em situações de emergência. O psicólogo trabalhará com o paciente investigando e questionando crenças limitantes, descrição de pensamentos, monitoramento de humor e desenvolvimento de estratégias para manejar a mania, a hipomania e a depressão.
O apoio familiar é ponto chave e pode tanto alicerçar a pessoa, afim de uma melhora, ou desamparar ainda mais, gerando uma piora no quadro. O psicólogo deve realizar um processo de Psicoeducação com todos para que saibam lidar com as alterações de humor e comportamentos.
Psicoeducação
Um bom psicólogo informará ao paciente e aos familiares o que devem ter atenção redobrada:
- Fique atento ao que sente, ao que pensa e como se comporta.
- Avalie se suas escolhas são conscientes e planejadas ou impulsivas e impensadas.
- Identifique gatilhos, quais situações lhe deixam mais irritado, melancólicos, impulsivo e agressivo. Escreva seus gatilhos e tenha-os à vista facilmente.
- Escreva um Diário do Humor. Tenha um caderno ou diário no qual você monitora diariamente como se sentiu, o que pensou e como lidou com as situações e pessoas.
- Estabeleça uma rotina diária. Tente regrar seu dia para que possa ser mais regular, sem muitas oscilações para modificar seu humor. Tente acordar no mesmo horário, fazer suas refeições no mesmo horário, ir dormir no mesmo horário, em outras palavras, criar pontos importantes no seu dia para ancorar suas atividades.
- Evite muita estimulação. Crie um ritual para desacelerar seu dia, ou seja, se você vai dormir às 22 horas, então comece a desacelerar às 18 horas. Você pode fazer isso evitando utilizar telas, consumir informações em excesso e evitar exercício físico vigoroso. Desta forma será mais fácil cair no sono e ter uma noite de descanso restauradora.
- Evite drogas lícitas e ilícitas. Converse com sua família e combinem de não comprar bebidas alcoólicas, ela excitam muito o sistema nervoso central e aumentam impulsividade. O mesmo vale para grande parte das drogas ilícitas.
- Peça ajuda. Quando estiver em dúvida sobre alguma atividade que gostaria de tomar, converse com seu terapeuta e pergunte qual a opinião dele sobre.
Referências:
1. Manual MSD – Transtornos Bipolares
2. Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM – V. Artmed, 2013.