Será que tenho Depressão?

Depressão é um Transtorno de Humor muito debilitante mas que possui tratamento e cura.
Tempo de Leitura: 10 minutos
Postado originalmente em: 17/03/2018

IMPORTANTE: Os artigos apresentados não pretendem identificar, diagnosticar ou sugerir tratamentos ou medicações para qualquer doença. Os conteúdos foram desenvolvidos apenas com fins educativos e informativos. Sempre procure um profissional habilitado para realizar uma avaliação adequada. Não se automedique.

É parte integrante de nossas vidas a frustração e a falta. Esses dois sentimentos são familiares para todos nós e, cedo ou tarde, nos deparamos com eles. Alguns enfrentam o sentimento e são capazes de superar, outros deprimem-se com mais ou menos facilidade, adentrando um estágio de depressão leve ou depressão maior.

Alguns irão enfrentar a perda dos pais e ficarão tristes, até mesmo por longo tempo, porém não entrarão em depressão. Outros tirarão uma nota baixa em uma prova e apresentarão sintomas depressivos graves. O que faz um indivíduo deprimir é uma pré-disposição, uma série de estímulos e correspondentes comportamentais frente esses estímulos. Em outras palavras, passamos por um momento de tristeza, temos uma resposta a esse sentimento, que será diferente para cada um, dependendo da nossa história pessoal e familiar, hereditária, fatores ambientais (trabalho, rotina) e resiliência.

Depressão ou Distimia?

Antes de qualquer explicação, é necessário entender o quão recorrente, profunda, debilitante e presente é a mudança de humor. A Depressão e a Distimia são Transtornos do Humor diferentes, portanto nem sempre se relacionam.

O que é Distimia?

Distimia, conhecida clinicamente como Transtorno Depressivo Persistente, é caracterizada por um episódio de Depressão Maior ou Menor, com duração de no mínimo dois anos, sendo que, nesse período, o paciente apresentou significativos sintomas que configuram um transtorno de humor. Portanto, o paciente deve ter apresentado sintomas tais como alterações no humor, motivação, prazer, pensamento, memória, atenção e funções executivas. Bem como perda da expressão facial, movimentos corporais, higiene pessoal e discurso (mudança no timbre, ritmo e vocabulário. Além, são comuns comportamentos como choro excessivo, sentimentos de desesperança, desamparo, culpa, inutilidade, apatia e adinamia.

Desta forma, Distimia é uma forma crônica da Depressão, porém com sintomas mais leves, pertinentes e que nem sempre têm um agente causador, um episódio desencadeador claro ou trauma, podendo assim parecer até parte da personalidade do indivíduo.

Pesquisas apontam que 6% da população brasileira possui, atualmente, quadros depressivos. Estima-se que, durante qualquer momento da vida, 1/5 da população mundial apresente sintomas depressivos em qualquer grau, ou seja, 20% da população mundial.

A depressão é mais comum em mulheres, numa proporção de 3 a 4 vezes maior que nos homens, devido a fatores hormonais e sociais. Todavia, os homens procuram menos auxílio profissional que as mulheres. Existe, além disso, a hereditariedade, a qual favorece a aparição de sintomas depressivos.

A Distimia é diagnosticada pelas alterações comportamentais presentes, como nervosismo, pessimismo, severidade, dificuldade de convívio social saudável, menos-valia e ceticismo. Contudo, ainda assim, essas não são características suficientes para diagnosticar uma Depressão Maior. Portanto, todo quadro depressivo crônico que não possui intensidade suficiente para ser enquadrado como Depressão Maior será encaixado como Transtorno Depressivo Persistente, subtipo Distímico, ou apenas Distimia.

Os sintomas da Distimia são:

– Desmotivação
– Fraqueza física
– Baixa resiliência psicológica
– Pessimismo
– Falta de Prazer na vida
– Cansaço
– Vontade de dormir o dia inteiro
– Fuga das dificuldades cotidianas

Um Distímico consegue manter seu convívio social, familiar e laboral, apesar da constante tristeza, contudo não irá se trancar, se isolar, se fechar ao mundo. Apesar de menos grave, a Distimia pode desencadear um quadro Depressivo Maior, se não tratada. O Distímico também costuma ser resistente ao tratamento, acreditando que o que sente é natural e que “a vida é ruim mesmo”. Tal comportamento é muito prejudicial, já que o indivíduo somente irá procurar auxílio quando estiver em um quadro mais grave, tornando o tratamento mais difícil.

O que é Depressão?

A Depressão comumente observada, denominada Depressão Maior Unipolar, é um transtorno do humor muito debilitante, constante e profundo, podendo levar a outros respostas e comportamentos, como autodepreciação, autoflagelação, isolamento social e até o suicídio. Sobretudo, muito mais do que um mal-humor constante e um comportamento de pouco enfrentamento da vida, a Depressão apresenta sintomas psicológicos e físicos, prejudicando uma série de aspectos da vida.

Comportamentos como choro excessivo, sentimentos de desesperança, desamparo, culpa, inutilidade, apatia, adinamia e outros são presentes. A Depressão Unipolar prejudica o indivíduo em vários âmbitos, comprometendo a convivência social, trazendo sofrimento, isolamento da família e amigos, além de desinteresse na vida, mesmo no que havia mais afinidade.

É importante, desde o início dos sintomas, acompanhamento psicológico para dar atenção emocional e, se necessário, que o paciente possa ser medicado por um Psiquiatra. Portanto, o paciente que apresenta sintomas depressivos e não recebe tratamento adequado pode cronificar seu estado emocional, evoluindo de um quadro depressivo para Depressão Maior.

Os sintomas da Depressão são:

– Humor deprimido diário ou recorrente
– Tristeza profunda
– Culpabilidade e autodepreciação
– Sentimento de vazio e incompletude
– Irritabilidade
– Ansiedade
– Isolamento social
– Sentimento de inutilidade, culpa, menos-valia e falta de sentido em qualquer tarefa
– Desmotivação e desinteresse nas atividades cotidianas, principalmente nas de maior afinidade
– Prejuízo na qualidade do sono, dormindo poucas horas ou permanecendo na cama por muito tempo, sono fragmentado e pesadelos
– Letargia, fadiga, cansaço e perda de energia
– Excesso de Fome ou Falta de Fome
– Ganho ou perda de peso significativa
– Compulsões sexuais ou perda total de libido
– Sentimento de Desesperança (sentimento que tudo está perdido e nunca melhorará)
– Dificuldade na concentração e manutenção de foco
– Ideações suicidas (pensamentos e planejamento sobre a morte)
– Pensamentos recorrentes sobre morte, negatividades, suicídio, medo e angústia
– Dores físicas sem explicações e diagnósticos médicas
– Falta de sensibilidade frente à dor e pouca reatividade

Colocando em poucas palavras, o Distímico tem um humor rebaixado crônico, ele mantêm uma tristeza profunda desde sempre, já o Depressivo necessita de um episódio depressivo para que a doença se manifeste, podendo ele ter um quadro distímico anterior ou não.

Depressão Maior Intermitente

Caracterizada pela Depressão de longa data, dois anos ou mais, nos quais houve quadros Depressivos Maiores e Menores. Ou seja, um paciente que, durante os dois anos necessários para caracterizar Depressão Persistente, teve ciclos de melhoras e pioras significativas, contudo continuou em Depressão.

Depressão Induzida por Substâncias

Algumas drogas lícitas, como medicamentos e álcool, e ilícitas, como cocaína, podem desencadear uma Depressão Maior induzida, ou seja, um Transtorno de Humor decorrente do uso de drogas, mesmo não havendo precedentes no histórico do paciente.

A maconha é uma droga que, após prolongado uso na grande maioria dos indivíduos, ou uso moderado em pacientes com tendências à Depressão, como hereditariedade, pode desencadear um Transtorno de Humor Depressivo, apesar de ser tratada comumente como uma droga inofensiva. O uso de substâncias estimulantes, como cocaína, anfetaminas e heroína, por outro lado, podem desencadear uma Depressão Maior em resposta à tentativa de cessar o uso de drogas. Ou seja, a abstinência pode gerar um desequilíbrio significativo nos neurotransmissores, suficiente para deprimir. Além dos citados, alguns medicamentos lícitos como imunossupressores, medicamentos para parar de fumar, anti-hipertensivos, anti-convulsivantes, anti-acne e calmantes ou sedativos, também podem interferir na circuitaria cerebral, desequilibrando o humor do paciente.

O Tratamento específico para pacientes depressivos por uso de drogas deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, com Psicólogo e Psiquiatra, mas também Assistentes Sociais e rede de apoio, como familiares e amigos, para que o indivíduo esteja alicerçado e seguro no tratamento. Deve-se atentar ao fato de que, para pacientes que utilizem diversos tipos de drogas, não é possível a retirada imediata de todas. O sensato é respeitar a abstinência ou uso das substâncias, sendo retirada uma a uma. Sobretudo, também avaliar o andamento e resposta do paciente frente a dificuldade presente ou não.

Quais são as causas?

O Trauma, a frustração, a perda, a falta, o momento de tristeza profunda. Esses são exemplos de possíveis agentes desencadeadoras da Depressão. Perder um ente querido é um momento difícil, de profunda tristeza e que pode ser um episódio depressivo. Ou seja, é normal se deprimir frente uma perda como esta, porém, o luto pode ser elaborado e a vida continuar em frente, ou pode desencadear um quadro Depressivo Maior. Assim sendo, a resposta psíquica é diferente para cada indivíduo.

Quais os fatores de risco para desenvolvimento da Distimia ou da Depressão?

– Histórico familiar (Hereditariedade)
– Mudanças drásticas na vida e situações traumáticas
– Desregulação hormonal
– Conflitos familiares e amorosos

Troca de Foco não ajuda

Um dos conselhos mais recorrentes dentre as pessoas próximas aos depressivos é a troca de foco. Frases como “comece a namorar alguém”, “adote um cachorro”, “pare de ser triste, alegre-se”, são todas completamente inúteis, irresponsáveis, inoportunas e desatenciosas com o sofrimento, que precisa de atenção.

Atitudes irresponsáveis durante um Transtorno de Humor, como seguir conselhos ao invés de um tratamento, podem remotamente remitir alguns sintomas, mas não é uma possibilidade de tratamento definitivo.

Então qual o Tratamento indicado?

Depressão é uma das doenças mais debilitantes que conhecemos e, mesmo não sendo contagiante, é muito comum. Os tratamentos mais indicados são Psicoterapia e atendimento Psiquiátrico para casos de Depressão Menor e Maior.

É importante ressaltar que nem todos os casos de Depressão necessitarão de intervenção medicamentosa. Para esses casos existem muitos tipos de medicações, as quais devem ser avaliadas pelo Psiquiatra para cada paciente especificamente.

Para casos com Depressão Menor, é possível que somente a Psicoterapia seja capaz de remeter os sintomas e, por meio de um plano terapêutico, a construção de meios de tratamento viáveis. Todas as linhas teórico-práticas reconhecidas pela Psicologia são capazes de tratar a Depressão, contudo a Terapia Cogntivo-Comportamental tem apresentado consistentes resultados no tratamento de pacientes com Depressão e outros Transtornos de Humor.

Referências:

  1. Manual MSD – Depressão Maior
  2. Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM – V. Artmed, 2013.
  3. O Demônio do Meio-Dia – Andrew Solomon
  4. Depressão: Teoria e Clínica – João Quevedo, Antonio Egidio Nardi e Antônio Geraldo da Silva
  5. Depressão: Causas e Tratamento – Aaron T. Beck e Brad A. Alford
  6. Mentes Depressivas – Ana Beatriz Barbosa Silva

Bruno Mello

Psicólogo e Sexólogo | CRP 08/24273 e CRP 08/03119

Atende no consultório particular de psicologia desde 2016, estuda relacionamentos, sexualidades, cognitiva, neuro, psiquiatria e outros assuntos. Gosta muito de cinema, arte, cultura e assina (quase) todos os serviços de streamings.

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